domingo, 11 de setembro de 2016

Lembranças de um tempo inesquecível (Daíse Lima em Crônicas)



Em uma das casas que eu morei quando criança, o quintal era enorme. Tinham pés de manga, de jabuticaba, de uva, de limão, de laranja, algumas cenourinhas, verduras, temperos, flores... Nessa casa eu morava com os meus pais, minha irmã do meio (que na época era a caçula porque a caçula ainda não tinha nascido), duas tias e a minha vó. Acho que a casa era a grande. Vou confirmar com os meus pais, porque na minha memória era grande sim. Quando a gente é criança tudo é grande! Mas, me lembro de que além dos muitos passarinhos que vinham nos visitar por causa das árvores desse grande lugar, lá também tinham várias borboletas. De todos os tamanhos e cores. Era bonito de se ver. E penso agora com saudades, mas acho que quando eu era criança existiam mais borboletas! Lembro-me de ver a vó ou a mãe colhendo frutas ou temperos e as borboletas fazendo em volta sua dança colorida!

Eu adorava as borboletas! Mas, o que eu gostava mesmo, era quando a vó pegava uma delas, geralmente as maiores, amarrava uma linha de costura em seu corpinho frágil e me dava para brincar e sempre falava sorrindo: "cuidado para ela não te levar embora, menina." E eu saía soltando borboletas coloridas pelo quintal como se fossem pipas. À princípio elas batiam as asas com força, tentando sair livre pelo céu, mas eu as tinha presas por aquela linha fina e elas não conseguiam ir muito longe. 
Essa era a melhor parte da brincadeira. Mas, depois elas ficavam cansadas. E já não voavam tão alto. E já não batiam mais as asas com forças. Essa era a hora que eu ia até a vó e a vó cortava a linha. Às vezes, de tão cansadas que estavam não voavam mais. Às vezes, morriam. Eu ficava triste, mas no dia seguinte, ganhava da vó outra borboleta para brincar no imenso quintal de terra.

Numa manhã ensolarada, mais uma vez, eu tinha ganhado da vó uma borboleta imensa. Essa eu lembro que era grande mesmo, cheia de cores. Dessa eu fiquei até com medo de ela me levar embora. Sair voando comigo pelo quintal, pela rua, pela cidade... E eu ficava imaginando a inveja que as outras crianças iriam sentir de mim quando me vissem voando por aí. Saí correndo feliz pelo quintal controlando o vôo dela para não se enroscar em algum galho de árvore, quando a minha mãe que pendurava roupas me olhou e disse algo que eu nunca mais esqueci: "Daíse, borboletas não foram feitas para isso. Borboletas não nasceram para voarem presas. Isso machuca a bichinha. Isso dói."

Nunca tinha me passado pela cabeça que eu estivesse machucando as borboletas. Nunca tinha me passado pela cabeça que borboletas haviam sido feitas para voarem livres. Nunca tinha me passado pela cabeça que só eu ficava feliz com a brincadeira que no fim resultava em algum machucado ou na morte de algumas delas. 
Chamei a vó que costurava na sala e disse que não queria brincar mais, que ela poderia cortar a linha. Ela cortou. E a borboleta saiu voando feliz e pousou no pé de manga.

Nunca mais eu brinquei assim com as borboletas. 
E nessa tarde de domingo, depois de uma gostosa soneca, lembrei desse episódio e me fiz a pergunta: não é assim também com o amor?
(Daíse Lima)

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Educador Social "Eu sou de uma terra que o povo padece, mas não esmorece e procura vencer. Da terra querida, que a linda cabocla de riso na boca zomba no sofrer. Não nego meu sangue, não nego meu nome. Olho para a fome, pergunto o que há? Eu sou brasileiro, filho do Nordeste, sou cabra da peste, sou do Ceará." (Patativa do Assaré)

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